"Fiz isso para me libertar da sombria vida
que é tudo que me foi permitido.
Servi no altar do estilo por tempo demais,
e agora estou tão cansado..."
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Capa brasileira |
Primeiramente,
precisamos situar o que é Fashion Beast – A fera da moda.
Fashion Beast era uma das obras perdidas de Alan Moore (um dos deuses
dos quadrinhos, criador de Watchmen e V de Vingança): uma
releitura do conto “A Bela e a Fera”, ambientado num cenário
pós-apocalíptico, à beira de um inverno nuclear,
cuja realidade social se divide entre a moda, a guerra e a miséria
(também achei isso bem improvável, mas até que
funciona bem na história).
Originalmente,
tratava-se de um roteiro pra filme, uma parceria idealizada no final
dos anos 1980 entre Moore e o produtor cultural Malcolm McLaren (o
cara era uma personalidade do rock e da contracultura, empresário
dos Sex Pistols e praticamente um impulsionador do punk). O projeto
ficou engavetado e foi complementado ano passado, quando repassaram
pra Antony Johnston a tarefa de adaptá-lo para os quadrinhos,
com a arte de Facundo Pércio. Publicado em 2013, está
saindo esse mês por aqui, pela Panini.
O que eu tenho a dizer:
primeiro: É ALAN MOORE, gente! Esse inglês doidão,
com ares de místico, louco e hippie, que é tipo uma
versão real mais magra do Hagrid de Harry Potter, com
a
imaginação mais psicodélica que eu já vi
no mundo dos quadrinhos.
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Mr. Alan Moore |
Fashion Beast não
foge desse contexto de criatividade. É uma daquelas histórias que abrem
os seus olhos pra como as pessoas que vivem nesse universo da moda
endeusam certos estilistas, marcas e estilos (tipo o que eu faço
com os roteiristas de quadrinhos que eu gosto, saca?).
A história é
toda alicerçada em 5 personagens: Doll, uma “menina que
parece um menino que parece uma menina”; Jonni, “um menino que
parece uma menina que parece um menino”; as Madames S e D, duas
velhacas repuxadas que comandam o ateliê de Celestine, o maior
estilista do cenário.
Doll tem uma vidinha
comum, um emprego de guarda-casacos na chapelaria de um clube, onde
todo mundo acha que ela é travesti, devido à sua
aparência andrógina (uma mulher que parece um homem que
parece mulher, lembra?). Envolvida numa confusão numa noite
de trabalho, ela acaba demitida. Como trabalho remunerado é um
elemento raro no cenário, ela se candidata à seleção
de novos modelos de Celestine e acaba sendo aprovada pela Fera (o
próprio Celestine, que vive recluso em razão de uma
aparência deformada, acompanhando tudo de uma sala onde apenas sua sombra é visível).
A partir daí, a
história segue o impacto dessa mudança na vida de Doll,
quando ela se torna a modelo principal de Celestine; a dinâmica
de sua relação com o aspirante a estilista Jonni e o
recluso dono da marca; a importância da moda naquele cenário
e as poucas saídas que esses personagens encontram para as
situações em que estão enquanto enfrentam as forças mantenedoras do status quo.
A dinâmica sequencial dos quadrinhos é voltada pra retratar movimentos, as cores e os desenhos tem uma puxada pop não
exagerada, e mesmo eu que não sou muito ligado em moda
consegui pegar algumas referências visuais. Vale a pena ter na
coleção se você se interessa por essas
releituras, pelo Alan Moore ou por essa ambientação
diferenciada e, apenas, se você já tiver Watchmen e V de Vingança na sua estante.
MOORE, Alan; MCLAREN,
Malcon; JOHNSTON, Antony. Fashion Beast – A Fera da Moda. São
Paulo: Panini, 2014.
276 páginas,
colorida, volume único.
Preço de capa:
R$ 29,90.
Sensacional!! Profissionalmente escrito salvo alguns maneirismos, mas estes que tornam a resenha a sua cara!! Parabéns Gui!!!
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