"Sonhe! Sonhos mudam
o mundo todas as noites!"
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Sandman |
Claro que você,
como pessoa bem informada, conhece Sandman, certo? Mas, para aqueles
que ainda não foram apresentados à esta maravilha, vou
fazer uma introdução.
No final dos anos 80,
os ingleses invadiram os quadrinhos americanos, trazendo com eles
histórias com uma temática mais adulta e fora do padrão
que preenchia o mercado. Um desses ingleses foi Neil Gaiman, que já
recebeu um post aqui no blog.
Neil Gaiman adentrou a
DC Comics e, após algumas controvérsias ao trabalhar em
selos de heróis mais populares, recebeu de Karen Berger a
proposta de repaginar um herói da era de ouro que já
caía no esquecimento: um justiceiro encarnado por um
milionário chamado Wesley Dodds que, para punir criminosos,
utilizava uma máscara e uma pistola de gás do sono
(sim, as pessoas eram muito criativas naquela época). Sem
outros poderes, confiando apenas na arma que lhe permitia adormecer
os criminosos, Dodds passou a utilizar a alcunha de Sandman, entidade mitológica que trazia o
sono, atirando areia nos olhos das pessoas. (Sabe aquela remela que
encontramos nos olhos ao acordar? Eles achavam que eram restos da
areia do Sandman). Em alguns lugares do Brasil, em especial aqueles em que a cultura portuguesa se difundiu, esse mito recebe o nome de João Pestana.
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Titio Gaiman |
Bom, voltando ao
Gaiman, a DC deu carta branca pra ele fazer o que quisesse com
Sandman, e aí a coisa ficou linda! O cara reformulou
totalmente o personagem. Sandman não era mais humano, ele era
Mopheus, Moldador, Oneiros... era a personalização da
própria capacidade humana de sonhar. Ele havia sido
aprisionado por humanos durante décadas e sua falta foi
tamanha, que a própria realidade procurava maneiras de
compensar (uma delas, gerando o próprio Wesley Dodds, uma
personificação humana, daquilo que o universo havia
perdido temporariamente).
Não vou entrar
mais em detalhes. Esse post de hoje inaugura o Projeto Relendo
Sandman. Vou tentar resenhar, comentar e discutir com vocês (se
possível uma vez por semana) cada uma das edições
de Sandman. Assim podemos trocar idéias e discutir os pontos
mais legais de uma das histórias em quadrinhos mais cultuadas pela galera nerd. Claro, alguns posts provavelmente
terão spoilers, então é legal que você
leia a edição antes (a menos que você não
se importe com isso).
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Essa tem na minha estante |
A minha coleção
é aquela Sandman: Edição Definitiva, lançada pela Panini em encadernados enormes (mas não tão enormes quanto os americanos). Você encontra outras versões por aí, já que os direitos de publicação de Sandman passaram de mão em mão pelas editoras aqui no Brasil. Outro recurso são os scans (eu mesmo li Sandman, pela primeira vez, através deles).
Minha dica: LEIA! E
leia com calma!
Sandman vale muito a
pena.
Pra dar uma
contextualizada e você entrar no clima, vamos apenas falar sobre os Perpétuos, pra
você entender quem é Morpheus. Claro que essa é a minha visão sobre eles, mas acho que está bem alicerçada com aquilo que vamos descobrindo no decorrer das histórias.
Imagine a existência.
Deve ter algum motivo pra isso tudo, não é? Mesmo que nós ainda não saibamos qual seja. Partindo desse pressuposto, se considerarmos que o
universo foi criado por uma entidade maior, minimamente consciente do
que estava fazendo, ela tinha um objetivo ao promover “a criação”.
Esse “objetivo” adentrou o próprio universo, assumindo o
nome de Destino, que encerra em si (e em seu livro), a própria
finalidade da existência.
Destino é um sujeito pálido,
cego, sempre coberto por um manto marrom como pergaminhos muito
antigos. Acorrentado ao seu braço está o Livro, onde o
próprio universo, o tempo e o espaço estão
escritos. Só destino, mesmo cego, é capaz de ler o
livro, embora raramente possa interferir.
Se o próprio
universo tem uma finalidade, um Destino, um dia essa finalidade será
alcançada. Esse ponto final, esse fim de todas as coisas
também se tornou um aspecto da existência: Morte, ou
seja, a necessidade de que aquilo que existe um dia chegue ao fim.
Além disso, havia a necessidade de que o Universo se
renovasse. Nesse intervalo entre a criação e o final, a
matéria que compunha a realidade se renovaria infinitas vezes,
mas para se renovar, ela precisava ser destruída. Surge o
terceiro aspecto perpétuo da existência: Destruição.
Atrelada à destruição, havia a necessidade de
renovação, de criação, do aproveitamento daquilo que restava das primeiras coisas quando estas eram destruídas. Essa força
criativa infinita e perpétua assume o aspecto de Sonho, a
capacidade de criar, renovar, imaginar.
Até esse momento, os
perpétuos representavam as necessidades básicas da
realidade: Destino, Morte, Destruíção e Sonho
(renovação). Esses são os grandes perpétuos,
os irmãos mais velhos. Contudo, a existência, conforme o
plano descrito no livro do Destino, levaria ao surgimento de seres
vivos e, com eles, os instintos básicos. Primeiro, o querer, movido
pelas necessidades mais primordiais de sobrevivência e, à
medida que a vida adquiria racionalidade, às emoções
e aos sentimentos. Quando essas necessidades e sentimentos não eram atendidos, aparecia a frustração. Surgem, então, os gêmeos Desejo e
Desespero.
Por fim, a mais nova dos Perpétuos representava a
satisfação, o prazer de alcançar essas
realizações, a própria felicidade em si, e foi
chamada Deleite. Contudo, conforme o universo evoluiu, coisas
aconteceram e uma grande tragédia tornou Deleite em Delirium,
a personificação da loucura e do caos que atinge a existência.
Esses, então,
são os Perpétuos, entidades acima dos deuses,
relacionadas às forças fundamentais da existência.
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A família reunida |
Curiosamente, no
original, todos tem os nomes iniciados pela letra D (Destiny, Death,
Destruction, Dream, Desire, Despair, Delirium). Por isso, em versões
mais antigas, chegamos a encontrar os Perpétuos nomeados como
Destino, Desencarnação, Destruição,
Devaneio, Desejo, Desespero e Delírio.
Agora que você já
conhece a família, semana que vem nós conheceremos
formalmente Sonho e acompanharemos o início de sua jornada.
Bem-vindos à Sandman!
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