“Espero poder contar
tudo a você,
como nunca pude contar a ninguém, e espero
que você seja uma grande fonte de conforto e ajuda.”
Alguns posts (e mais de
um mês atrás), eu disse que estava topando o desafio
literário da Rory Gilmore, ou, ao menos, tentando. Bom, O
diário de Anne Frank é o meu primeiro livro integrante
do desafio e tenho que dizer: É um livro incrível.
Na verdade, O diário
de Anne Frank é bem mais que isso. Ele é um relato real
de uma jovem retirada de seu cotidiano normal por uma guerra
injustificada, privada de sua liberdade e forçada a conviver
em tempo integral com seus familiares e alguns estranhos, enquanto se
escondem da opressão alemã durante a Segunda Guerra
Mundial.
Anne nasceu em 1929, na
Alemanha. Aos 4 anos, com a ascensão do partido nazista, sua
família se retirou para a Holanda, onde foi alcançada
pela Segunda Guerra Mundial em 1942. Contando com o auxílio de
conhecidos, o pai de Anne, Otto Frank, providenciou um alojamento
sobre uma fábrica de especiarias, um anexo secreto oculto
atrás de uma estante, acima do espaço da fábrica
e seus escritórios. Neste pequeno esconderijo, Anne, seu pai,
sua mãe e irmã e outras quatro pessoas conviveram
durante dois anos, afastados do mundo exterior. Em 1944, contudo, o
“Anexo secreto” foi descoberto e deportados. O pai de Anne,
último sobrevivente da família, recebeu o diário
após o fim do conflito e decidiu realizar o sonho de Anne, que
ambicionava ser escritora, publicando o livro.
Há, dentre
várias, duas considerações essenciais sobre o
livro. Primeiro, ele é um relato fiel, em primeira mão,
das agruras da guerra e, mais que isso, da dificuldade dos inocentes
em lidar com a crueldade humana. Nesses dois anos vividos dentro do
anexo, acompanhamos as tristezas, esperanças e incertezas que
acometem aquelas pessoas escondidas durante tanto tempo. Os
contrastes entre as diferentes personalidades, as preocupações
com o mundo exterior, o medo sempre constante de serem encontrados.
Essa é o primeiro aspecto do diário: um documento
histórico que narra a guerra a partir do ponto de vista das
vítimas.
A segunda das
considerações é sobre o amadurecimento da
autora. No início do diário, Anne tem 13 anos. Dada à
devida contextualização histórica, ela ainda é
uma menina imatura, até mesmo fútil em alguns momentos,
quando retirada de uma vida relativamente confortável e transportada para o cenário recluso e isolado do anexo.
Contudo, Anne é espirituosa, dotada de um humor e uma
sensibilidade extraordinários, o que, aliados à sua fé
inabalável, permite que acompanhemos, através das
páginas, o desenvolvimento de uma personalidade forte, um
caráter honrado e uma crença gigantesca na bondade
humana.
A menina que começa
o livro não é a mesma que encontramos nas últimas
páginas. Tanto a escrita, quanto os temas narrados e o seu
ponto de vista sobre eles vão se tornando cada vez mais
complexos e desenvolvidos graças, muitas vezes, apenas à
percepção sensível de Anne sobre as pessoas e
acontecimentos em sua vida. Anne Frank nos mostra que existem duas
maneiras de se lidar com o sofrimento: entregar-se à ele ou
utilizá-lo como força e experiência para o nosso
próprio amadurecimento.
Trata-se de uma leitura
recomendadíssima que, com certeza, merece um lugar na nossa
estante.
FRANK, Anne. O diário
de Anne Frank – edição definitiva por Otto Frank e
Mirjam Pressler. trad. Ivanir Alves Calado. - 22a. ed. - Rio de
Janeiro: BestBolso, 2013.
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