Resenha: O pacto. O melhor dos diabos contra o pior dos homens.


 “Talvez fosse sempre assim. 
Talvez todos os planos do Diabo não fossem nada 
comparados ao que os homens 
conseguem tramar.”



A cara de bom moço do
Joe Hill
Ele está chegando!
Sim, o diabo está chegando por aí, ou ao menos uma versão dele. Daniel “Harry Potter” Radcliff vem por aí na adaptação de “O Pacto”, escrito por Joe Hill, filho do Mestre do suspense sobrenatural Stephen King.

Entre as várias coisas que consegui ler nesse tempinho ausente (mudança de emprego, de cidade, de vida...rs) este foi um que se destacou na listinha e mereceu resenha.

Ignatius Perrish é a personificação da normalidade. Alguém um pouco tímido, asmático, normal. Filho de um músico pseudofamoso, Ig iria viver uma vida tranquila e pacata, até certo ponto, sem saber o que fazer. A grande diferença entre eu e vc e Ig é que ele sabe o que é o amor. Desde criança a vida de Ig estava entrelaçada à de Merrin Willians, a ruivinha que conheceu na igreja da pacata cidade de Gideão. Merrin e Ig eram o casal que todos invejavam. Mais que namorados, eram amigos, eram o contraponto um do outro, o complemento capaz de fazer a vida perfeita.

Contudo, quando Ig está indo trabalhar no exterior por seis meses, as coisas começam a mudar. Um dia antes da partida, Merrin se encontra com Ig e, contra as expectativas dele de uma noite de sexo de despedida encerrada com votos de que esperaria por ele, Merrin termina o relacionamento, num bar, cheio de pessoas ao redor. Ele, então, faz o que todo homem magoado e com orgulho ferido faria: toma um porre daqueles. No dia seguinte, ainda de ressaca, Ig está no aeroporto, pronto pra pegar seu vôo para a Inglaterra quando é abordado pela polícia. Merrin está morta. Encontrada violentada, agredida com uma pedrada na cabeça e com a gravata de Ig em volta do pescoço, fazendo dele o principal suspeito. Contra todas as expectativas da população de Gideão que o considera culpado, Ig se safa da condenação e entra numa espiral de autopiedade.

Um ano depois, após uma nova noite de bebedeira pra amenizar a culpa e a saudade, Ig acorda com uma forte dor de cabeça. Surpreendentemente, não é resultado do porre, mas sim de um par de chifres que começa a nascer em suas têmporas. E os chifres vem acompanhados de um poder estranho: toda pessoa que se encontra com Ig, além de não estranhar sua nova aparência, sente-se compelida a contar seus piores segredos, suas vontades mais obscuras.

Enquanto tenta compreender como ganhou os chifres, Ig parte em busca de entender o que está acontecendo e como isso pode ser útil para descobrir o que realmente aconteceu um ano atrás. Mas, até que ponto ele conseguirá suportar os segredos mais sórdidos dos outros, inclusive daqueles que lhe são mais próximos? Especialmente, depois de descobrir que duas de suas pessoas mais queridas esconderam fatos sobre a morte de sua amada...

O livro é uma aventura fantástica sobre a realidade das relações humanas, o número de máscaras que usamos e o quanto as convenções sociais, religiosas e até mesmo o medo nos inibe de realizar nossas vontades mais sombrias. Ig se aventura nos desejos e segredos mais íntimos e sombrios dos outros, que quando se deparam com seus chifres o acolhem como seu demônio particular, despejando suas vontades mais estranhas e depravadas, levando-nos a uma questão que aborda até a teologia: é o Diabo que nos tenta ou nós que lhe impomos essa responsabilidade, na tentativa de fugir de nossa própria culpa por esses desejos impróprios?

A capa da minha edição
:D
Enfim, o livro levanta, através da ficção sobrenatural, uma série de debates interessantes, à medida em que Ignatius vai se percebendo, cada vez mais, como uma nova personificação do diabo. Enquanto Ig segue avançando em seu novo papel de demônio iniciante, vamos nos deparando com o quão perturbada pode ser a natureza humana, mostrando que, algumas vezes, o melhor dos diabos não é tão ruim quanto o pior dos homens.

Vale muito a pena! Me esforcei pra não dar muitos spoilers aí na resenha, mas acho que contei o suficiente pra chamar a atenção, né?

Desde já, fica a dica: o livro está esgotado na editora, mas provavelmente, com o boom da adaptação cinematográfica que vem por aí, deve ser lançada uma nova edição. Eu, curioso que sou, conheci a história através do trailer do filme e fui atrás pra ler antes de assistir. Não me decepcionei!


E pra quem ficou curioso com o filme que vêm por aí, segue o trailer legendado de Horns (O pacto):


Resenha: Doutor Octopus – Origem, muito além dos 4 tentáculos.


“Dr. Octopus: Não parece correto, parece? Estarmos frente
a frente, porém destituídos de nossas invenções,
desnudos em nossa frágil humanidade.
Somos horrendos, não somos?
Homem-Aranha: Não, a gente não é.”


Edição BR pela Panini
Olá, pessoal! Hoje é dia de resenha de quadrinhos, e a bola da vez é Doutor Octopus – Origem (Doctor Octopus: Year One).

Para mim, Octopus sempre foi um dos vilões mais legais da galeria do Aranha. Muitas vezes subestimado ou mal aproveitado, Otto é um gênio da mecânica, robótica e cibernética. Seus tentáculos fornecem alcance, superforça, capacidade de locomoção e escalada. Mas não é apenas por isso que eu gosto do Doutor. A personalidade megalomaníaca e arrogante dele, quando bem escrita, é muito interessante.

Não de motivos para seu filho se tornar um supervilão
Em Origem, acompanhamos a formação da personalidade de Otto Octavius, desde a infância até seu encontro com o “Amigão da vizinhança”. Otto era uma criança gênio que, como todo bom CDF, sofria a perseguição dos valentões da escola enquanto, em casa, convivia com um pai agressivo e violento. Crescendo nesse meio, Otto viu a ciência como sua única saída e se dedicou totalmente à ela.

Adentrando em uma das melhores instituições de ensino superior dos Estados Unidos, apesar de ainda ser vítima de algum preconceito por ser o estereótipo do nerd (baixinho, gordinho, de óculos, enfurnado em livros... praticamente eu), Otto se concentrou ainda mais em seus estudos. Encontrando apoio de um grupo de professores, dedicou-se a desvendar os segredos do átomo e da radiação, o que acabou despertando o interesse militar por suas pesquisas.

Uma das capas originais. Poderia ser
um batutinha, não?
Contudo, na mesma medida em que cresce o intelecto, cresce a arrogância do cientista, fazendo com que ele veja seus colegas como obstáculos incapazes de acompanhá-lo e auxiliá-lo em seu progresso. Isso leva ao desenvolvimento dos tentáculos, à integração deles com o próprio Otto e ao acidente que acaba por fundi-los ao seu corpo. Nasce o Doutor Octopus.

Não vou dar mais spoilers pra não estragar a leitura de quem se interessar pelo encadernado. Contudo, tenho que dizer que gostei bastante dessa releitura da origem desse vilão que ganhou bastante espaço recentemente. O Doutor Octopus andou muito tempo na zona nublada entre o heroísmo e a vilania. O roteiro de Zeb Wells serve pra demonstrar os motivos pelos quais Otto se torna obcecado pelo Aranha, não apenas como inimigo, mas com o ideal de superá-lo, de ser melhor que o aracnídeo, o que serve de enlace com a recente Homem-Aranha Superior (motivo de críticas e elogios), onde um Otto moribundo transfere sua mente para o corpo do Aranha, com o objetivo de ser um herói melhor que seu outrora inimigo.

As capas são lindas. A arte de Kaare Andrews é divertida, limpa, com traços mais simples, algumas vezes quase caricato (o que pode incomodar alguns), mas que casam muito bem com o contraste das cores de José Vilarrubia.

Por fim, os encontros entre Peter Parker e Otto Octavius e entre Homem-Aranha e Doutor Octopus chegam a ser quase poéticos pela narrativa visual. Gostei bastante.

Octopus "loucão" no cinema

WELL, Zeb. Dr. Octopus - Origem. trad. Fernando Bertacchini - 1a. ed. - Barueri: Panini Books, 2014.
Capa dura. Colorida. 124 pg.
Preço de Capa: R$ 21,90.

Projeto Relendo Sandman – A introdução!



"Sonhe! Sonhos mudam
o mundo todas as noites!"


Sandman
Claro que você, como pessoa bem informada, conhece Sandman, certo? Mas, para aqueles que ainda não foram apresentados à esta maravilha, vou fazer uma introdução.

No final dos anos 80, os ingleses invadiram os quadrinhos americanos, trazendo com eles histórias com uma temática mais adulta e fora do padrão que preenchia o mercado. Um desses ingleses foi Neil Gaiman, que já recebeu um post aqui no blog.

Neil Gaiman adentrou a DC Comics e, após algumas controvérsias ao trabalhar em selos de heróis mais populares, recebeu de Karen Berger a proposta de repaginar um herói da era de ouro que já caía no esquecimento: um justiceiro encarnado por um milionário chamado Wesley Dodds que, para punir criminosos, utilizava uma máscara e uma pistola de gás do sono (sim, as pessoas eram muito criativas naquela época). Sem outros poderes, confiando apenas na arma que lhe permitia adormecer os criminosos, Dodds passou a utilizar a alcunha de Sandman, entidade mitológica que trazia o sono, atirando areia nos olhos das pessoas. (Sabe aquela remela que encontramos nos olhos ao acordar? Eles achavam que eram restos da areia do Sandman). Em alguns lugares do Brasil, em especial aqueles em que a cultura portuguesa se difundiu, esse mito recebe o nome de João Pestana.

Titio Gaiman
Bom, voltando ao Gaiman, a DC deu carta branca pra ele fazer o que quisesse com Sandman, e aí a coisa ficou linda! O cara reformulou totalmente o personagem. Sandman não era mais humano, ele era Mopheus, Moldador, Oneiros... era a personalização da própria capacidade humana de sonhar. Ele havia sido aprisionado por humanos durante décadas e sua falta foi tamanha, que a própria realidade procurava maneiras de compensar (uma delas, gerando o próprio Wesley Dodds, uma personificação humana, daquilo que o universo havia perdido temporariamente).

Não vou entrar mais em detalhes. Esse post de hoje inaugura o Projeto Relendo Sandman. Vou tentar resenhar, comentar e discutir com vocês (se possível uma vez por semana) cada uma das edições de Sandman. Assim podemos trocar idéias e discutir os pontos mais legais de uma das histórias em quadrinhos mais cultuadas pela galera nerd. Claro, alguns posts provavelmente terão spoilers, então é legal que você leia a edição antes (a menos que você não se importe com isso).

Essa tem na minha estante
A minha coleção é aquela Sandman: Edição Definitiva, lançada pela Panini em encadernados enormes (mas não tão enormes quanto os americanos). Você encontra outras versões por aí, já que os direitos de publicação de Sandman passaram de mão em mão pelas editoras aqui no Brasil. Outro recurso são os scans (eu mesmo li Sandman, pela primeira vez, através deles).

Minha dica: LEIA! E leia com calma!

Sandman vale muito a pena.

Pra dar uma contextualizada e você entrar no clima, vamos apenas falar sobre os Perpétuos, pra você entender quem é Morpheus. Claro que essa é a minha visão sobre eles, mas acho que está bem alicerçada com aquilo que vamos descobrindo no decorrer das histórias.

Imagine a existência. Deve ter algum motivo pra isso tudo, não é? Mesmo que nós ainda não saibamos qual seja. Partindo desse pressuposto, se considerarmos que o universo foi criado por uma entidade maior, minimamente consciente do que estava fazendo, ela tinha um objetivo ao promover “a criação”. Esse “objetivo” adentrou o próprio universo, assumindo o nome de Destino, que encerra em si (e em seu livro), a própria finalidade da existência. 

Destino é um sujeito pálido, cego, sempre coberto por um manto marrom como pergaminhos muito antigos. Acorrentado ao seu braço está o Livro, onde o próprio universo, o tempo e o espaço estão escritos. Só destino, mesmo cego, é capaz de ler o livro, embora raramente possa interferir.

Se o próprio universo tem uma finalidade, um Destino, um dia essa finalidade será alcançada. Esse ponto final, esse fim de todas as coisas também se tornou um aspecto da existência: Morte, ou seja, a necessidade de que aquilo que existe um dia chegue ao fim. 

Além disso, havia a necessidade de que o Universo se renovasse. Nesse intervalo entre a criação e o final, a matéria que compunha a realidade se renovaria infinitas vezes, mas para se renovar, ela precisava ser destruída. Surge o terceiro aspecto perpétuo da existência: Destruição. 

Atrelada à destruição, havia a necessidade de renovação, de criação, do aproveitamento daquilo que restava das primeiras coisas quando estas eram destruídas. Essa força criativa infinita e perpétua assume o aspecto de Sonho, a capacidade de criar, renovar, imaginar. 

Até esse momento, os perpétuos representavam as necessidades básicas da realidade: Destino, Morte, Destruíção e Sonho (renovação). Esses são os grandes perpétuos, os irmãos mais velhos. Contudo, a existência, conforme o plano descrito no livro do Destino, levaria ao surgimento de seres vivos e, com eles, os instintos básicos. Primeiro, o querer, movido pelas necessidades mais primordiais de sobrevivência e, à medida que a vida adquiria racionalidade, às emoções e aos sentimentos. Quando essas necessidades e sentimentos não eram atendidos, aparecia a frustração. Surgem, então, os gêmeos Desejo e Desespero.

Por fim, a mais nova dos Perpétuos representava a satisfação, o prazer de alcançar essas realizações, a própria felicidade em si, e foi chamada Deleite. Contudo, conforme o universo evoluiu, coisas aconteceram e uma grande tragédia tornou Deleite em Delirium, a personificação da loucura e do caos que atinge a existência.

Esses, então, são os Perpétuos, entidades acima dos deuses, relacionadas às forças fundamentais da existência.

A família reunida

Curiosamente, no original, todos tem os nomes iniciados pela letra D (Destiny, Death, Destruction, Dream, Desire, Despair, Delirium). Por isso, em versões mais antigas, chegamos a encontrar os Perpétuos nomeados como Destino, Desencarnação, Destruição, Devaneio, Desejo, Desespero e Delírio.


Agora que você já conhece a família, semana que vem nós conheceremos formalmente Sonho e acompanharemos o início de sua jornada.

Bem-vindos à Sandman!

Resenha: O diário de Anne Frank (Finalmente!!!)

 


“Espero poder contar tudo a você, 
como nunca pude contar a ninguém, e espero
que você seja uma grande fonte de conforto e ajuda.”

Alguns posts (e mais de um mês atrás), eu disse que estava topando o desafio literário da Rory Gilmore, ou, ao menos, tentando. Bom, O diário de Anne Frank é o meu primeiro livro integrante do desafio e tenho que dizer: É um livro incrível.

Na verdade, O diário de Anne Frank é bem mais que isso. Ele é um relato real de uma jovem retirada de seu cotidiano normal por uma guerra injustificada, privada de sua liberdade e forçada a conviver em tempo integral com seus familiares e alguns estranhos, enquanto se escondem da opressão alemã durante a Segunda Guerra Mundial.

Anne nasceu em 1929, na Alemanha. Aos 4 anos, com a ascensão do partido nazista, sua família se retirou para a Holanda, onde foi alcançada pela Segunda Guerra Mundial em 1942. Contando com o auxílio de conhecidos, o pai de Anne, Otto Frank, providenciou um alojamento sobre uma fábrica de especiarias, um anexo secreto oculto atrás de uma estante, acima do espaço da fábrica e seus escritórios. Neste pequeno esconderijo, Anne, seu pai, sua mãe e irmã e outras quatro pessoas conviveram durante dois anos, afastados do mundo exterior. Em 1944, contudo, o “Anexo secreto” foi descoberto e deportados. O pai de Anne, último sobrevivente da família, recebeu o diário após o fim do conflito e decidiu realizar o sonho de Anne, que ambicionava ser escritora, publicando o livro.

Há, dentre várias, duas considerações essenciais sobre o livro. Primeiro, ele é um relato fiel, em primeira mão, das agruras da guerra e, mais que isso, da dificuldade dos inocentes em lidar com a crueldade humana. Nesses dois anos vividos dentro do anexo, acompanhamos as tristezas, esperanças e incertezas que acometem aquelas pessoas escondidas durante tanto tempo. Os contrastes entre as diferentes personalidades, as preocupações com o mundo exterior, o medo sempre constante de serem encontrados. Essa é o primeiro aspecto do diário: um documento histórico que narra a guerra a partir do ponto de vista das vítimas.

A segunda das considerações é sobre o amadurecimento da autora. No início do diário, Anne tem 13 anos. Dada à devida contextualização histórica, ela ainda é uma menina imatura, até mesmo fútil em alguns momentos, quando retirada de uma vida relativamente confortável e transportada para o cenário recluso e isolado do anexo. Contudo, Anne é espirituosa, dotada de um humor e uma sensibilidade extraordinários, o que, aliados à sua fé inabalável, permite que acompanhemos, através das páginas, o desenvolvimento de uma personalidade forte, um caráter honrado e uma crença gigantesca na bondade humana.

A menina que começa o livro não é a mesma que encontramos nas últimas páginas. Tanto a escrita, quanto os temas narrados e o seu ponto de vista sobre eles vão se tornando cada vez mais complexos e desenvolvidos graças, muitas vezes, apenas à percepção sensível de Anne sobre as pessoas e acontecimentos em sua vida. Anne Frank nos mostra que existem duas maneiras de se lidar com o sofrimento: entregar-se à ele ou utilizá-lo como força e experiência para o nosso próprio amadurecimento.

Trata-se de uma leitura recomendadíssima que, com certeza, merece um lugar na nossa estante.



FRANK, Anne. O diário de Anne Frank – edição definitiva por Otto Frank e Mirjam Pressler. trad. Ivanir Alves Calado. - 22a. ed. - Rio de Janeiro: BestBolso, 2013.

Deuses cósmicos, surfistas espaciais e a nossa necessidade de Deus. A resenha de Surfista Prateado: Parábola.

A capa de Parábola
“- Você passou tempo demais entre os irracionais humanos. 
Começou a se comportar como eles. 
Embora ocorram inúmeras mortes todos os dias, 
eles insensatamente tratam cada uma 
como se importasse no esquema 
cósmico das coisas.
- O que o faz dizer que não importa? Se a vida é a dádiva 
mais preciosa de todas, a perda de vidas 
não é um problema de conseqüências 
monumentais?”

Algumas vezes, durante a nossa vida, surge algo que representa claramente o que nós pensamos, como se outra pessoa, através de seu trabalho, concretizasse aquilo que nós mesmos temos dificuldade de expressar. Para mim, não é surpresa que isso, muitas vezes, aconteça através dos quadrinhos, já que é um meio com o qual eu me identifico. Isso aconteceu novamente.

Tio Lee
Semanas atrás, eu tive em mãos Surfista Prateado: Parábola. Veja bem, não é uma história nova. Parábola é um encontro artístico ocorrido no final dos anos 80, entre Stan “The Man” Lee e Moebius e, se você saca um pouco de quadrinhos, conhece os caras, certo?

Stan Lee é o responsável pelas bases do que conhecemos hoje como o Universo Marvel, esse conceito de integração entre os vários personagens da editora (muitos com conceito original desenvolvido pelo próprio Stan). Eu poderia fazer um post inteiro sobre ele, mas basta dizer que ele criou os X-Men (em parceria com Jack Kirby) e o Homem-Aranha (com Steve Ditko). Ele é o velhinho que faz ponta em quase tudo que sai da Marvel.

Moebius
Moebius (1938-2012), cujo nome verdadeiro é Jean Giraud foi um quadrinista francês, extremamente conceituado na face cult dos quadrinhos, com um traço bem próprio, diferenciado do estilo “comic” ao qual estamos acostumados. Conhecido pelas obras Blueberry e Incal, Moebius também foi responsável pelo visual de filmes como O quinto elemento (1997), O segredo do abismo (1989) e Willow (1988).

Parábola surgiu de um encontro entre os dois gigantes, em 1988, numa feira do livro, onde Stan batalhou um almoço com o quadrinista francês. Proposta a parceria, Moebius contou que gostaria de trabalhar com o Surfista Prateado.

Assim, juntos, resolveram escolher um tema complexo até hoje: religião. Na história, a humanidade não está mais acostumada a heróis e segue seu caminho próprio, em meio a guerras e luta por poder. O próprio Surfista Prateado vive escondido, como mendigo, em meio aos humanos. Contudo, a chegada de Galactus parece por fim a esse cenário.

Uma amostra da arte
Galactus e o Surfista haviam firmado um pacto de que o devorador de mundos não atacaria a Terra para saciar sua fome e o Surfista abriria mão de voar pelo universo para servir como guardião da raça humana. Porém, quando Galactus retorna, ele não rompe o juramento. Ele não veio para se alimentar do planeta, mas sim para se declarar um deus entre os mortais. Ele diz que os humanos não devem se submeter à leis que limitem suas vontades e que devem buscar a satisfação de seus desejos. Com isso, o caos se instaura.

Ao mesmo tempo, um tele-evangelista se aproveita da chegada da entidade cósmica e se declara profeta de Galactus, utilizando o nome do devorador para angariar seguidores e devoção, chegando a cometer atos questionáveis para se manter na posição de líder religioso.

Em meio a questões filosóficas, Lee e Moebius nos levam a uma reflexão sobre nossa sede por um propósito divino para nossa existência, sobre a necessidade de uma orientação etérea sobre nossas condutas e, mais que isso, sobre a suscetibilidade da grande maioria das pessoas a uma liderança religiosa que lhes diga o que é certo e o que é errado.

Mais que isso, questiona também os líderes a quem damos esse poder, seus propósitos às vezes tão distante dos ideais que alegam representar e os perigos que uma fé cega pode gerar quando aliada à falta de um senso crítico.

Religião, moral, fé. Parábola é mais que quadrinhos, é uma obra de filosofia. O título escolhido não foi à toa. Parábola traz sim uma mensagem relevante, que consegue se manter atual, mesmo 15 anos após sua publicação original.

A arte é linda. Moebius tem um traço que consegue transmitir tanto a fluidez do Surfista Prateado quanto a solidez de Galactus, não se esquecendo de contextualizar a época em que a história foi escrita,porém com um estilo de narração visual bem mais europeu, ou seja, fluído, com coloração leve.

A opinião final é de que sim, vale MUITO a pena!
Por quê? Eu também me pergunto...


LEE, Stan. Surista Prateado: Parábola. Roteiro: Stan Lee; arte: Moebius; Tradução: Eduardo Tanaka e Bernardo Santana. Barueri: Panini Books, 2013.
92 páginas
Preço sugerido: R$ 21,90.





Lost Canvas Gaiden: Cavaleiros do Zodíaco como você ainda não viu

A capa
“Realmente este sangue é assustador, 
mas é o dom que meu mestre deixou pra mim”


E vamos falar de mangá!
Eu, você e todo mundo concordamos que Cavaleiros do Zodíaco é uma das franquias mais famosas e queridas do mundo.
Tudo começou com o mangá original, que resultou num anime, que resultou em filmes, mangás alternativos, retcons, miniaturas... Enfim, é com certeza um dos nomes mais famosos (e rentáveis) do universo nerd.

Hoje, contudo, não vamos nos dedicar ao começo do universo do Tio Kurumada, mas sim a uma das direções mais legais que o negócio tomou: Lost Canvas – Gaiden.

Lost Canvas conta a história da Guerra Santa anterior àquela em que Seiya e companhia participaram, a Guerra em que Shion e Dohko lutaram, quando jovens. Diga-se, de passagem, que o anime (ainda não concluído/possivelmente cancelado) é, de longe, uma das minhas animações preferidas.

Com o encerramento do mangá de Lost Canvas, abriram-se as portas para novas histórias, focadas especialmente nos cavaleiros dourados daquela Era. Essas histórias, independentes entre si, contam aventuras fechadas, cada uma focada em um cavaleiro de ouro. Aqui no Brasil já estamos no 8, mas achei mais legal começar as resenhas pelo volume 1, certo?

Quem abre o Gaiden é Alfabica, o cavaleiro de ouro de Peixes. A história começa com Albafica protegendo uma criança de alguns espectros. Ao salvá-la, esta fica agradecida e se aproxima do cavaleiro de Ouro, que a afasta rapidamente e segue em direção ao Santuário, para se apresentar ao Grande Mestre. Chegando lá, o Mestre envia Peixes em uma nova missão. Uma das estrelas malignas de Hades começou a brilhar sobre uma ilha próxima ao santuário, famosa por seus curandeiros. Dirigindo-se à ilha, Albafica reencontra a criança, que salvou anteriormente, e essa passa a acompanhá-lo, já que conhecia a ilha para onde o dourado se dirigia.

Chegando à ilha, Albafica se surpreende com a aparência do famoso curandeiro da ilha, que
O traço do mangá é assim
lhe lembra de seu mestre Rugonis, o cavaleiro de Peixes anterior. O curandeiro, chamado Ruko, revela-se uma pessoa agradável, conhecedor do segredo de Peixes: o elo carmesim. Os cavaleiros de Peixes possuem no sangue um veneno extremamente poderoso e, por isso, sempre vivem isolados do restante das outras pessoas. Por este motivo, Albafica não havia permitido o toque da criança que salvou anteriormente. Em meio a várias memórias de seu treinamento, acompanhamos Albafica refletindo sobre o sacrifício que é guardar a décima segunda casa e o fardo do sangue venenoso. Ruko, então, oferece ao cavaleiro a cura, mas a que preço? O que acontece na ilha sob a influência da estrela maligna? Porque Albafica não encontra os espectros ao chegar? O que Ruko tem a ver com isso?

Bom, aí já seriam spoilers demais, né?

Espero que tenham ficado curiosos.


Cavaleiros do Zodíaco – Lost Canvas: Gaiden, volume 1 é assinado por Masami Kurumada (roteiro) e Shiori Teshirogi (desenhos), tem capas coloridas e interior preto e branco (você já sabia, eu sei, mas tem gente que não sabe que mangá é assim). A arte é linda, num estilo intermediário entre o traço mais cru e limpo do mangá original de CdZ e dos desenhos rebuscados e detalhistas de Episódio G. Está saindo no Brasil pela JBC e já está no volume 8.

A história leva nota máxima da casa porque tem um traço lindo, desenvolve uma mitologia legal sobre os cavaleiros de Peixes e, além disso, é o cavaleiro do meu signo, pô!!! Rolou uma peixada? Sim ou com certeza?


Albafica no anime


KURUMADA, Masami; TESHIROGI, Shiori. Os Cavaleiros do Zodíaco - The Lost Canvas: Gaiden, vol. 1. São Paulo: JBC, 2012.
200 páginas.
Preço de capa: R$ 12,90.

Injustiça, Deuses entre nós, mas não como você está pensando.


Batman: Isso sempre foi entre nós. Por que fez isto com ele?
Coringa: Sempre que nós dois brincamos, eu perco. 
Fiquei cansado de perder. Achei que seria uma boa 
tentar no modo fácil. 
E FOI fácil.


Se você não viveu no espaço nos últimos tempos, você sabe do que se trata Injustice, certo? O game de luta envolvendo os heróis (e vilões) do DCverse.

Claro, todos nós gostamos de uma boa pancadaria, especialmente entre nossos personagens favoritos. Tanto é verdade que já é tradição nos quadrinhos que heróis diferentes, ao se encontrarem, batam primeiro e perguntem depois. Mas, como o foco do game era atingir os leitores dos quadrinhos e fãs dos heróis, ele precisava de algo mais. Não que não quiséssemos ver o Superman sair no braço com o Batman (confronto que todo mundo adora) ou o Lanterna contra Sinestro, mas era necessário mais do que apenas porrada, era necessário um motivo!

E o motivo veio, claro, numa realidade alternativa. Aliás, as realidades alternativas são queridinhas dos roteiristas, pois dão uma imensa liberdade de criação sem interferir no conceito original dos personagens. Bom, não é spoiler porque vocês já devem ter visto em algum lugar qual a premissa por trás do jogo. Acontece que essa premissa foi roteirizada e lançada em quadrinhos e, olha, vale a pena.

Com roteiro de Tom Taylor e arte de Jheremy Raapack, Mike S. Miller e outros, saiu Injustiça – Deuses entre nós.

A história narra o que acontece antes do game. No jogo, Superman pirou o cabeção e resolveu botar ordem na bagaça. Acreditando que o mundo não seria pacífico se não fosse conduzido com mão de ferro, ele usa seus aliados da Liga da Justiça e a tecnologia kriptoniana para se tornar o ditador da terra. Mas o que poderia corromper tanto o Superman? O que Lex Luthor fez pra deixar o Homem de Aço assim? A resposta é: Nada.

Quem aprontou com o Último Filho de Kripton foi o Coringa. Cansado de brincar com o Batman, o Coringa arma um plano capaz de enlouquecer até mesmo Kal-El. E consegue. Iludido pelo Coringa, Superman comete algo impensável e cruza a linha definitiva dos heróis.

O volume reúne as histórias publicadas em seis edições americanas, num total de 196 páginas. A arte está muito boa, o roteiro faz jus ao jogo. Minha observação especial, inclusive, é sobre como os roteiristas estão retratando a Mulher-Maravilha ultimamente. Ela é uma amazona, uma guerreira. Não é bem uma heroína, embora os conceitos possam se cruzar algumas vezes. E essa Diana de Injustice é bem o que se espera de uma princesa amazona.

Sim, Injustiça vale a pena, porque coloca perspectiva na existência de um herói tão poderoso como Sups e na relação entre ele e os humanos normais. Sem falar que tem muita porrada e tem o Batman, sendo foda, como sempre.

Ah, e sobre a nota, Injustiça só não leva nota máxima porque poderia vir numa edição capa dura, porque com certeza merece um lugar na estante.

Se você já viu o jogo, conhece a história, ou não tem medo de spoilers, vale a pena conferir esse vídeo sobre uma das primeiras cenas do jogo, quando Kal-El cruza os limites do herói.




TAYLOR, Tom; RAAPACK, Jheremy; MILLER, Mike S. Injustiça – Deuses entre Nós. São Paulo: Panini, 2014
196 páginas, colorida, volume único.

Preço de capa: R$ 22,90

Game of... Mario???

Ah, a internet, esse oceano infindável de mentes nerds e criativas.
Todo mundo sabe que Game of Thrones é sensacional e que sua abertura já virou clássico, com suas cenas de composição das cidades aliada à trilha do tã-nã-nãaa (ok, não fica tão legal quando tentamos escrever a letra).

Não satisfeitos, os fãs juntaram duas paixões nerds: GoT e Super Mario!!!

E fizeram esse vídeo aqui que merece seu play:


PS: Pessoal do papelpop viu primeiro, compartilhamos de lá... ;)

O mago mais fo** da... TV?

É, gente.

Sabemos que a DC sempre pisoteou na Marvel no campo dos seriados. Maior número de produções, melhores orçamentos e, geralmente, mais qualidade. Não à toa tivemos Smallville (que apesar de perder o rumo nas últimas temporadas, relançou as séries de super-heróis), temos Arrow (que anda bem elogiada) e, vindo por aí, Flash e Gotham.

Não satisfeita, o gênero sobrenatural também ganhou sua pontinha e, não poderia ser com ninguém menos que Constantine, o mago mais sacana do DCverse.

Dá uma olhada no trailer oficial:


Vingadores Dois "disponível" agora!

Ok! Eu estava devendo esse post há um tempinho, mas não foi minha culpa. Muita coisa aconteceu.
De toda forma, a notícia ainda estava valendo.

Como já foi amplamente divulgado, Vingadores 2 vai ter foco em Ultron, uma inteligência
Momento "ser ou não ser"
artificial desenvolvida por Hank Pym (o primeiro homem formiga e um dos personagens com o maior número de identidades heróicas na Marvel: Homem-Formiga, Gigante, Golias, Jaqueta Amarela)... O cara não conseguia decidir se preferia o poder de crescer ou de diminuir de tamanho (embora eu ache que o tal superpoder deveria funcionar para os dois lados, afinal, se como gigante, ele pode aumentar de tamanho e depois voltar ao normal, isso quer dizer que ele pode diminuir também, não?). Análises à parte, o negócio é a tal superinteligencia artificial malígna. Não bastasse estar em constante evolução, o corpo robótico de Ultron é feito de... adivinhe??? Adamantium!!
Guarda-roupa variado o do Pym
Isso aí, minha gente. Um dos metais mais resistentes do universo Marvel!

Com certeza Ultron é um vilão digno do filme. Ele é o cara (se é que um robô pode ser chamado de cara) que não quer apenas dominar a Terra. Ele quer erradicar a raça humana. Maaaas, considerando o título do post, você deve estar se perguntando se eu pirei ou viajei no tempo. Nada disso!

Avengers – Age of Ultron está disponível agora porque está sendo publicado no Brasil o arco de quadrinhos do qual o filme deverá ser adaptado. Ele é uma boa introdução pra quem não quer chegar no cinema sem saber um pouco mais sobre o vilão ou os heróis retratados na telona.

A Panini está publicando naquele formato (que eu particularmente adoro), de disponibilizar a história central em edições separadas, focadas apenas no desenvolvimento da saga e histórias “avulsas”, relativas à trama, intercaladas em suas mensais. Isso quer dizer que, com um pouquinho de boa vontade, você consegue acompanhar a saga apenas com as edições especiais, o que eu acho legal para o público que não acompanha as regulares.

Assim, se você quer começar a se preparar para Age of Ultron, comece agora. O arco foi roteirizado por Brian Michael Bendis (você sabe quem é o carequinha, né? Figura carimbadíssima na Marvel) e contou com desenhos de vários artistas, entre eles Bryan Hitch, Carlos Pacheco e Joe Quesada. Eu estou acompanhando a edição BR e estou curtindo a qualidade. Confere lá e já vai pensando na pipoca, que ano que vem o filme estoura no cinema.

Fu***
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